Diante da pandemia do novo coronavírus, dezenas de famílias se viram obrigadas a passar pelo processo de morte e luto de um ente querido à distância. Sem velórios ou com um número reduzido de pessoas e de tempo, com caixões lacrados, os enterros em tempos de covid-19 exigiram mudanças como participação de parentes via chamada de vídeo, rituais religiosos pela internet ou mesmo cerimônias solitárias.
“Os rituais diante da morte são muito importantes, porque regularizam as experiências, fornecem um lugar seguro, desde um lugar físico, até um lugar afetivo importante para expressão das emoções, para que as pessoas possam enfrentar este momento juntas. Com a covid -19, esses rituais, que tinham função apaziguadora, organizadora, não estão acontecendo, e isso representa um risco para o luto complicado após a morte, porque não foram feitas as despedidas” afirma a coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre Luto da PUC-SP, professora Maria Helena Pereira Franco.
A docente prevê um tempo bastante difícil no que diz respeito à saúde mental e o luto: “As pessoas que apresentam um luto complicado vão ter algumas demandas que precisarão ser atendidas, como por exemplo, buscarão mais os serviços de saúde, pois ficarão mais atentas a algum sintoma, terão mudanças no sistema imunológico, ficando mais suscetíveis a adoecer”.
Ela explica que haverá impacto também no âmbito social, na relação com grupos maiores, nas relações familiares. “Inclusive, por não terem a oportunidade de se despedir, podem ficar com a expectativa de que aquela morte não aconteceu, porque não tiveram a concretude da morte que os rituais proporcionam”, explica. Para Maria Helena, é importante pensar em alternativas e adapatações a esta falta, justamente porque é importante que o luto seja feito, nem que seja uma reunião online com amigos e familiares da pessoa falecida.
Rituais religiosos
Do ponto de vista religioso, o contato físico diante da morte é também uma forma de prestar solidariedade e acolhimento, afirma o professor da Faculdade de Teologia da PUC-SP, padre Sérgio Lucas.
“A perda de um ente querido é sempre uma experiência de dor, mesmo quando se dá ao final de um longo processo de adoecimento. Para lidar com esse evento, muitas pessoas recorrem às práticas religiosas, que podem oferecer significativa ajuda, mas com o distanciamento social provocado pela covid-19 refletimos sobre a possibilidade de realizar os rituais religiosos fúnebres de outras formas”, informa o professor.
Ele explica, que mesmo que não seja um ritual religioso, a despedida é importante. “No momento do falecimento, as pessoas se reúnem e elaboram algum ritual de despedida, um ritual que pode ser laico, pode ser conduzido por um conhecido, um próprio membro da família, não precisa ser nada elaborado, e é muito importante e significativo que se tenha esse momento, porque é a hora que as pessoas podem expressar suas emoções, naquele momento tão difícil no qual a gente se despede de uma pessoa que partiu”.
Padre Lucas explica, porém, que existem os rituais religiosos e que há a possibilidade de um ritual fúnebre religioso mesmo com a situação de isolamento social: “Não temos como elaborar um ritual com todas as partes que geralmente se faz, com as pessoas participando, esse talvez não seja tão simples de ser organizado num momento desse, mas é fundamental que as famílias saibam que existe a possibilidade. Após notificar um religioso, é bom que se organize um tempo breve, pouco antes do sepultamento ou cremação, e nesse tempo a gente possa fazer uma chamada de vídeo, usar essas plataformas para congregar mais pessoas, e fazer algumas das orações que são feitas nesse momento específico que possam fortalecer essas famílias”.
A despedida pode ajudar os entes a ter um consolo: “A importância desse ritual é justamente porque acentua o fato de que essa pessoa querida não está saindo da nossa vida de qualquer jeito, é preciso oferecer alguma coisa para essa pessoa que está partindo, e isso pode ser muito confortante para os entes sobreviventes”.
Luto complicado
O professor explica que os rituais são importantes para evitar o ‘luto complicado’. “Um conforto maior para que se possa evitar o que na psicologia nós chamamos de ‘luto complicado’, porque nem todas as pessoas conseguem lidar com facilidade com a morte. Aliás lidar com a morte é sempre difícil, mas algumas têm mais dificuldade em lidar e desenvolvem o luto complicado. A realização de um ritual religioso pode ser o fator de prevenção de um luto complicado”.
Padre Lucas diz ainda que, mesmo que não se consiga fazer um ritual nesse momento próximo ao sepultamento, pode ser organizado sim um encontro virtual com várias pessoas e nesse encontro pode-se organizar um ritual de despedida, de manifestação e expressão de sentimentos, no qual os familiares podem falar sobre aquilo que vem ao coração.
"Isso, talvez, minimize a dor das pessoas que perdem seus entes queridos e se veem [por conta da pandemia], limitadas a expressar seus sentimentos e manifestar um gesto de despedida dessas pessoas”, finaliza.
O professor explica que os rituais são importantes para evitar o ‘luto complicado’. “Um conforto maior para que se possa evitar o que na psicologia nós chamamos de ‘luto complicado’, porque nem todas as pessoas conseguem lidar com facilidade com a morte. Aliás lidar com a morte é sempre difícil, mas algumas têm mais dificuldade em lidar e desenvolvem o luto complicado. A realização de um ritual religioso pode ser o fator de prevenção de um luto complicado”.
Padre Lucas diz ainda que, mesmo que não se consiga fazer um ritual nesse momento próximo ao sepultamento, pode ser organizado sim um encontro virtual com várias pessoas e nesse encontro pode-se organizar um ritual de despedida, de manifestação e expressão de sentimentos, no qual os familiares podem falar sobre aquilo que vem ao coração.
"Isso, talvez, minimize a dor das pessoas que perdem seus entes queridos e se veem [por conta da pandemia], limitadas a expressar seus sentimentos e manifestar um gesto de despedida dessas pessoas”, finaliza.
Agência Brasil
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