Ex-candidato a deputado estadual concedeu entrevista em Mossoró difamando e acusando alunos e gestores de instituições federais, sem qualquer prova
O MPF alerta que essas informações falsas prejudicam a imagem não só das instituições, como de todos os profissionais por elas formados, e requer do réu o pagamento de indenização em danos morais coletivos no valor de R$ 500 mil. “A afirmação do réu é difamatória e preconceituosa e não corresponde à realidade dos professores e alunos”, enfatizam os procuradores da República Emanuel Ferreira e Fernando Rocha, autores da ACP, para quem a omissão diante desse tipo de comportamento estimularia novas manifestações de ódio e de intolerância, passando longe da legítima liberdade de expressão.
Transparência – Instituições como a Ufersa prestam contas anualmente dos recursos recebidos (às quais toda a sociedade tem acesso), além de serem auditadas por órgãos de controle como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU). A acusação feita pelo réu, por sua vez, se baseou apenas no fato de ele ter tido negado (pela UFRN) recursos para promover um evento de psiquiatria, enquanto a universidade sediava outros eventos.
Somado a isso, na última edição da Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (de 2018), em nível nacional 89,2% dos alunos responderam que nunca usaram drogas ilícitas, dentro ou fora das instituições. Na Ufersa esse percentual foi de 95,3%. “Ao invés de promover um ambiente de estímulo ao uso de drogas, a Ufersa promove ações institucionais de prevenção e conscientização e combate, em especial ao comércio ilegal de substâncias”, registrou uma nota divulgada pela universidade.
Nessa nota, a Ufersa desmentiu também a acusação de que não admitiria a entrada da Polícia Militar em suas dependências. “As ações são integradas com as polícias Militar e Federal”, esclareceu, complementando: “A instituição oferece aos discentes assistência social, psicológica, nutricional e pedagógica, além de práticas de esportes, ensino de música, moradia e alimentação de qualidade e programas e projetos de ensino, pesquisa e extensão”.
A Ufersa acrescentou, também, que “não é de conhecimento desta universidade e dos seus profissionais, bem como da literatura científica, a associação entre tatuagens e transtornos mentais, ou capacidades moral e intelectual do indivíduo”. Para o MPF, a crítica do ex-candidato a deputado atinge de forma “negativa e preconceituosa” todas aquelas pessoas tatuadas, pertencentes aos mais diversos grupos da sociedade.
Autoritarismo - As fake news foram divulgadas por Daniel Sampaio em 7 de maio de 2019, durante entrevista a um programa televisivo local sobre política. Na oportunidade, ele ainda considerou “esquisita” as manifestações culturais desenvolvidas na universidade e alegou que muitos alunos entram nessas instituições “sem nenhuma dependência química, sem nenhuma tatuagem e estão saindo cheios de tatuagens com dependências químicas”, resultando em doenças mentais graves. Atribuiu ainda às universidades o aumento dos casos de suicídio entre jovens.
A Ufersa lembrou que “os transtornos mentais e do comportamento têm origem e desenvolvimento multicausais, dada a influência dos fatores sociais, culturais, genéticos, neurobiológicos e psicológicos”, não sendo obviamente resultado de um único fator, muito menos da frequência a uma universidade federal.
Para o MPF, as declarações do ex-candidato mostram – além de preconceito e desconhecimento - uma visão autoritária de cultura que admite somente uma visão de mundo possível, a do próprio réu, a respeito de uma esfera de ensino público no qual devem vigorar o pluralismo de ideias, a vedação da censura e a proteção à liberdade de expressão.
Contexto - A atitude de Daniel Sampaio não foi isolada e integra um contexto de ataques coordenados à imagem das instituições federais de ensino. Tanto que a entrevista foi concedida somente uma semana depois que o então Ministro da Educação, Abraham Weintraub, ameaçava com o corte de verbas as universidades que, segundo ele, estariam fazendo “balbúrdia”.
“Ataques coordenados às universidades (…) servem para desvalorizar a educação: buscando-se legitimar um discurso autoritário em torno de uma única concepção de vida no espaço público”, cita o procurador da República Emanuel Ferreira. A ACP irá tramitá na Justiça Federal no RN sob o número 0801192-72.2020.4.05.8401.
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