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Selic em 15% afeta comércio, indústria e serviços no RN



A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 15% ao ano, anunciada na semana passada, gera um cenário de incertezas para o setor produtivo do Rio Grande do Norte. A medida visa controlar a inflação, mas tem repercussões diretas no consumo, nos investimentos e na geração de emprego, argumentam as entidades. O aumento da Selic tem efeitos sobre o acesso ao crédito, o custo de produção e a competitividade de diversos setores da economia, especialmente no comércio, na indústria e nos serviços.

O economista Thales Penha explica que, embora o aumento da Selic seja uma resposta ao cenário inflacionário, ele traz desafios significativos para a economia. “Sempre que o Banco Central eleva a taxa de juros, ele olha para uma única coisa: inflação. A missão do Banco Central é controle inflacionário e ele utiliza o aumento da taxa de juros para fazer esse controle”, explica.

Penha ainda destaca que o aumento da Selic tem efeitos diretos no acesso ao crédito. “Setores que precisam de investimento ou capital de giro de curto prazo vão sentir um efeito, porque o custo de captação vai ficar muito mais elevado. Esses setores que demandam muito capital, tanto para investimento de longo prazo quanto para aquelas empresas que precisam o tempo todo estar financiando para capital de giro, serão os setores mais afetados porque vai encarecer o preço de se tomar o crédito”, diz o economista.

A alta da Selic também interfere diretamente no financiamento de bens de consumo, como imóveis e veículos. “Todas as taxas vão ser atualizadas. Se a Selic está aumentando, as outras vão obedecendo a essa dinâmica. Então, o financiamento de casas e de carros vai ficar mais caro”, alerta Penha, que prevê um desaquecimento da economia como consequência da medida. “Investimentos que seriam feitos não serão mais feitos, e até tomadas de decisão, como abrir ou fechar um negócio, serão afetadas”, afirma o economista.

Fiern alerta para estagnação na indústria

A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern) também vê com preocupação os efeitos da Selic elevada no setor produtivo. O presidente da federação, Roberto Serquiz, ressalta que o aumento dos juros compromete diretamente a competitividade das indústrias potiguares. “O aumento compromete o desempenho industrial, e as sucessivas elevações atuais, chegando aos 15%, tendem a gerar uma estagnação na economia, desestimulando os investimentos e retraindo a geração de emprego e renda”, explica.

“Com a Selic nesse patamar, os bancos e instituições financeiras elevam suas taxas, tornando o crédito mais restrito e mais caro, onerando o processo produtivo. Isso dificulta o acesso a financiamentos para investimentos em maquinário, tecnologia e expansão da produção”, acrescenta Serquiz.

Na avaliação do presidente, os setores mais afetados serão os mais dependentes de crédito e de capital de giro. “São justamente aqueles mais dependentes de capital de giro e de financiamentos recorrentes, diante do encarecimento do crédito, que torna empréstimos mais caros, atingindo especialmente a indústria manufatureira, de transformação: setores como confecção e vestuário, móveis, panificação, bebidas, alimentos, plástico e produtos de limpeza”, aponta.

O presidente da Fiern também critica a política monetária atual, que, segundo ele, vai na contramão das propostas de incentivo ao setor. “A atual política monetária do Banco Central é contraditória diante do Programa Nova Indústria Brasil (NIB), que prevê uma política de incentivo ao desenvolvimento da indústria de transformação com impacto maior nas micro e pequenas empresas (MPEs). Essa política de juros está indo na contramão do que defende o Nova Indústria Brasil”, afirma.

Retração no consumo

A Fecomércio-RN também avalia que o aumento da Selic tem refletido no comportamento do consumidor e nas vendas do comércio potiguar. “Juros altos impactam tanto o consumo como os investimentos, com efeitos diretos sobre a geração de emprego e renda. Para o Comércio, os setores de bens de consumo duráveis e semiduráveis, como veículos, móveis e eletroeletrônicos são os mais impactados pelo aumento do custo do crédito – são produtos de maior valor”, explica o presidente da Fecomércio, Marcelo Queiroz.

O presidente ainda destacou dados da Confederação Nacional de Comércio (CNC) que apontam uma retração no Índice de Consumo das Famílias (ICF). “O índice mostra queda no indicador pelo 3º mês consecutivo no RN, atingindo 78 pontos em junho (abaixo de 100 pontos mostra pessimismo)”, destaca Queiroz.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Natal) acrescenta uma preocupação com a inadimplência. José Lucena, presidente da CDL Natal, explica que o problema é crescente e reflete o impacto dos juros elevados. Segundo ele, cerca de 29,6% das empresas no RN estavam inadimplentes em fevereiro de 2025, e o número de famílias com dívidas em atraso em Natal chegou a 37,8%. “Esse cenário é resultado direto dos juros elevados: o consumidor endividado prioriza despesas básicas, e o lojista sofre com o aumento da inadimplência”, ressalta.


Tribuna do Norte

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