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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Abin apresentou relatório que responsabilizava o governo no 8 de Janeiro

Antonio Cruz/Agência Brasil


A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é fonte de intriga e desconfiança desde o início do governo Lula. Após a eleição, a Polícia Federal, por ordem de Andrei Rodrigues, que viraria o diretor-geral da corporação, fez uma série de ações para isolar os servidores da agência. Eles tiveram, por exemplo, o acesso bloqueado à sede do governo de transição, onde as principais balizas do novo mandato eram decididas. Também foram recusados os computadores cedidos pelo órgão e até mesmo a rede de internet foi alterada.

A suspeita, desde então, era que haveria algum tipo de espionagem contra os petistas por parte dos agentes de inteligência, na época vinculados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), então comandado pelo general Augusto Heleno. Ao assumir a cadeira presidencial, Lula tirou a Abin do guarda-chuva do GSI, transferindo-a para a Casa Civil – ou seja, para o braço-forte do Palácio do Planalto. O movimento, no entanto, não foi suficiente para pacificar as relações.

A PF e a Abin sempre estiveram em rota de colisão, principalmente pelo fato de o chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, ter mantido em postos de confiança pessoas que eram consideradas ligadas a Jair Bolsonaro e a Alexandre Ramagem. Um dos alvos de suspeição, desde o início, era Alessandro Moretti, que acabou demitido por Lula na última terça-feira, 30.

Pessoas influentes do governo, como o então ministro da Justiça Flávio Dino, tentaram uma espécie de intervenção para barrar o número 2 da agência, que foi braço-direito de Anderson Torres, ministro de Bolsonaro, na secretaria de Segurança do Distrito Federal. Lula, no entanto, dizia que havia dado carta branca a Corrêa para montar a sua equipe e não iria interferir nas escolhas.

Um episódio ocorrido na Casa Civil no auge das investigações da CPMI sobre o 8 de Janeiro ilustra o clima belicoso. No encontro, Moretti apresentou um relatório com potencial de trazer problemas ao governo – o documento trazia responsabilizações ao Ministério da Justiça e ao então chefe do GSI, Gonçalves Dias, pelos atentados às sedes dos Três Poderes. O parecer, portanto, dava ressonância à estratégia dos oposicionistas da comissão, que acusavam o governo de ter sido negligente diante das ameaças de ataques obtidas por órgãos de inteligência na véspera.

Participantes da reunião, os ministros Rui Costa e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), e o então secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, se indignaram com o posicionamento e cobraram explicações do chefe da Abin. Eles viram, ali, justamente um jogo duplo da cúpula da agência para atingir Lula e seu governo. Luiz Fernando Corrêa reagiu: “Vocês estão duvidando da minha lealdade ao presidente?”, questionou. Ao fim, não se sabe se por lealdade ou por falta de embasamentos, o relatório acabou descartado – governistas, claro, dizem que o material era inócuo.

Outras divergências

Não foi a primeira vez que materiais produzidos pela Abin foram contestados por governistas. Em conversas privadas, auxiliares de Lula chegaram a fazer chacota da qualidade dos documentos de inteligência. Entregues lacrados e tarjados como ultraconfidenciais, os relatórios não costumam passar de um mero apanhado de reportagens jornalísticas, acompanhadas de alguns comentários.

Além disso, pessoas ligadas à PF apontam para uma obstrução da agência de inteligência com as investigações. Inicialmente, a Abin forneceu dados de apenas 1.800 monitoramentos feitos por meio da ferramenta de geomonitoramento FirstMile. Depois, porém, descobriu-se que, na realidade, foram feitas mais de 60 mil consultas, das quais metade delas esteve concentrada durante as eleições de 2020. Os dados ficaram armazenados em um servidor israelense.

Por esses e outros motivos, aliados do presidente esperavam que Lula fosse aproveitar as investigações da Polícia Federal para fazer uma limpa na Abin e trocar toda a cúpula do órgão. O argumento era que, a exemplo do que já tinha acontecido em outubro, também no âmbito das apurações sobre o uso do software espião, o ministro Alexandre de Moraes pudesse tomar a dianteira e afastar, numa canetada, a cúpula do órgão.

O presidente, no entanto, fez mudanças parciais, demitiu o número 2 da Abin e trocou outros quatro diretores, mas decidiu manter o diretor-geral.

Com informações da VEJA


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