Um outro mundo é possível, pregam os socialistas, em defesa de um regime onde a propriedade privada seja abolida. A história mostra que a imposição desse sistema não funcionou. Mas, discretamente, pequenas comunidades mundo afora conseguiram aquilo que os revolucionários não alcançaram: uma sistema onde não há propriedade e todos os bens são comuns.
Quatro anos atrás, o escritor americano Rod Dreher gerou um intenso debate dentro da direita americana ao defender o que chamou de “Opção Beneditina”. O argumento principal era o de que, em um mundo cada vez mais hostil aos valores tradicionais da fé cristã, seria preciso formar comunidades cristãs, preferencialmente fora das áreas urbanas. Enquanto o movimento conservador ainda debate se a proposta é de fato a melhor solução em um mundo hostil aos valores tradicionais, há quem já tenha adotado a vida em comunidade – muitas vezes, com princípios que vão muito além dos propostos por Dreher. Um dos grupos mais bem organizados é o da comunidade Bruderhof ("lugar dos irmãos", em alemão). Embora seja desconhecida no Brasil, a organização já tem 101 anos de história. Até o lema é parecido com os dos comunistas: "Uma outra vida é possível". A diferença é que, lá, o "comunismo" deu certo porque é voluntário, e baseado em princípios profundamente arraigados.
O princípio da Bruderhof é o de levar uma vida semelhante à mencionada no livro dos Atos do Apóstolos, que descreve o modo de vida dos primeiros cristãos: “Ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”.
Fundado na Alemanha como uma resposta aos horrores da Primeira Guerra Mundial, o grupo migrou para a Inglaterra durante a Segunda Guerra, por sua posição pacifista. De lá, alguns se mudaram para o Paraguai, ao mesmo tempo em que o grupo crescia nos Estados Unidos, onde hoje estão a maior parte das comunidades mantidas pelo grupo.
Qualquer pessoa pode participar da comunidade Bruderhof, ao contrário do que ocorre com outros grupos de perfil semelhante, como os Amish. Mas, além de subscrever à profissão de fé do grupo, teologicamente protestante, quem deseja ingressar na comunidade precisa doar seus bens. Em troca, recebe moradia, alimentação – e tudo o mais que for preciso para uma vida simples. Não existe propriedade privada. Até mesmo as roupas pertencem à comunidade. Os solteiros que se juntam à comunidade vivem em casas coletivas. Mas cada família tem uma casa, com seus próprios cômodos – embora a cozinha seja dividida com outra família.
Os moradores de uma comunidade Bruderhof não têm empregos remunerados. Eles se dedicam à própria comunidade, de acordo com suas aptidões e as necessidades do momento. Parte dos recursos para sustentar a comunidade e manter o trabalho evangelístico mantido pela Bruderhof vem de fora: a Bruderhof mantém, dentre outros, uma fábrica de brinquedos e móveis de madeira para crianças, uma de equipamentos para pessoas com deficiência e uma terceira, que produz placas personalizadas.
Com sede em Rifton, no estado de Nova York, a Bruderhof tem comunidades em sete países – inclusive na Coreia do Sul e na Austrália. Os membros vestem roupas tradicionais (as mulheres usam vestidos longos). Mas, ao contrário de outros grupos mais radicais, como os Amish, os Bruderhof não rejeitam a tecnologia, nem se opõem ao contato com o mundo externo. O grupo mantém até mesmo um canal no YouTube onde uma jovem simpática tira dúvidas de pessoas interessadas no modo de vida comunitário.
A comunidade mantém as próprias escolas, mas os jovens não são impedidos de frequentar a faculdade no "mundo exterior", e, embora a comunidade tenha seus próprios médicos, também é permitido buscar tratamento em hospitais do lado de fora.
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